Como Caíssa é a musa do xadrez se os gregos não jogavam xadrez?

Resposta do Dall-E para “Desenhe Caíssa, a deusa do xadrez, com cabelos ruivos”:

Introdução

É uma boa pergunta.

Em primeiro lugar, Caíssa não faz parte da mitologia grega, mas da mitologia trácia.

Os trácios eram um povo que vivia nos Bálcãs, no Sudeste da Europa, onde hoje ficam os países Albânia, Bósnia e Herzegovina, Bulgária, Croácia, Grécia, Kosovo, Macedônia do Norte, Montenegro, Romênia, Sérvia e Eslovênia. Eles eram conhecidos pela grande quantidade de ruivos.

Na foto: A ruiva Judit Pólgar. Coincidência.

Mas… Os trácios tampouco conheciam o jogo de xadrez. Então como Caíssa pode ser a musa do xadrez deles?

Contexto Cultural do Renascimento

Em 1453, a cidade de Constantinopla foi conquistada pelos turcos otomanos, liderados pelo sultão Maomé II. Essa cidade fora erguida por Constantino para ser a capital do Império Romano do Oriente, também conhecido como Império Bizantino e, atualmente, corresponde a Istambul, na Turquia.

A tomada de Constantinopla foi marcante para o Renascimento. Constantinopla funcionava como centro de distribuição de produtos orientais (principalmente porcelanas, tecidos e especiarias) para a Europa. Depois da conquista otomana, outros polos ganharam força, como as cidades italianas de Veneza e Florença. Essas cidades assistiram ao acúmulo de enormes fortunas nas mãos de investidores ousados e de suas famílias; muitos ricos se tornaram mecenas, ou seja, patrocinadores das artes e das letras. O Renascimento foi uma época fértil para o humanismo, visão filosófica que valoriza o homem, suas realizações e seu potencial para descobrir coisas novas.

Homem Vitruviano, de da Vinci.

Outra característica do Renascimento foi a retomada do estudo da cultura greco-romana; diversos textos clássicos, perdidos na Europa durante a Idade Média, mas preservados pelos muçulmanos, foram recuperados pelos europeus com juros culturais. Inclusive, temas mitológicos foram abordados em diversas obras do período, como poemas, pinturas e esculturas.

O Nascimento de Vênus, de Sandro Boticelli.

O fato é que, embora os europeus em geral continuassem sendo cristãos, a influência da religião no comportamento individual diminuiu drasticamente em comparação com os tempos medievais. As pessoas passaram a se basear mais no próprio julgamento do que no temor a Deus para tomarem suas decisões — foi mais um reflexo do humanismo que marcou o período. Como consequência da mentalidade mais aberta, entrou na moda o flerte com mitologias e seus panteões.

Além de tudo, a invenção da impressão com tipos móveis, pelo alemão Johannes Gutenberg (c. 1398-1468), permitindo a produção de mais cópias de livros em menos tempo, contribuiu com a disseminação das novas ideias.

Impacto no Xadrez

O Renascimento também foi uma época de enorme progresso no estudo do xadrez. A possibilidade de ganhar dinheiro com patrocínio ou em apostas estimulou o estudo e possibilitou o surgimento dos primeiros atletas desse esporte.

Mestres como Luca Pacioli, Pedro Damiano, Luís de Lucena, Ruy López, Pietro Carrera e Gioacchino Greco escreveram livros onde deixaram inestimáveis contribuições para o entendimento do jogo.

Quadro posterior mostrando Ruy López na Corte espanhola.

Uma Musa Inspiradora para o Xadrez

O fato de não haver um deus do xadrez conhecido era motivo de desapontamento para admiradores do jogo no Renascimento. Foi então que o poeta italiano Marco Girolamo Vida (1485-1566), no poema Sccachia Ludus, descreveu pela primeira vez Caíssa, a musa trácia do xadrez. Trata-se de um anacronismo, ou seja, um erro de cronologia, já que o xadrez moderno nem existia na época dos trácios, muito menos era jogado por eles ou tinha uma divindade associada. Mas a invenção de Vida pelo menos deixou os amantes do jogo e da mitologia satisfeitos.

Leia mais sobre o Xadrez na Idade Média aqui.

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