Fórmula Infalível para se tornar Mestre em Xadrez

Malcolm Gladwell, jornalista inglês, é o autor de Fora de série (Outliers) — Descuba por que algumas pessoas têm sucesso e outras não. Nesse livro, o autor defende a teoria das 10 mil horas: esse é o tempo de dedicação necessário para qualquer pessoa se tornar especialista em uma área da atividade humana.

O livro se opõe à ideia de talento natural e de self-made-man. Gladwell afirma que muitos casos de artistas, de atletas, de empresários e de outros profissionais de destaque começam quando anjos da guarda (pais, caçadores de talentos, escolas que dão bolsas de estudo ou simplesmente uma situaçãofavorável) abrem portas para as promessas, contribuindo para que elas cresçam, cumpram as 10 mil horas e de fato se tornem grandes em suas áreas. Esse fenômeno é conhecido como “profecia autocumpridora”; as promessas não são naturalmente mais aptas do que as outras pessoas, elas tornam-se mais aptas pelo apoio que ganham por serem consideradas promessas. Na verdade, em maior ou menor grau, a ajuda imerecida sempre faz parte das histórias das grandes personalidades.

O livro dá exemplos. Veja o caso do compositor austríaco Wolfgang Mozart (1756-1791). Seu pai, Leopold, era violinista e escreveu um manual do seu instrumento; portanto, pode-se dizer que Wolfgang tinha um professor em casa. Sob orientação do pai, ele começou a estudar cravo antes dos cinco anos e, com essa idade, começou a compor. No entanto, provavelmente Leopold ajudou o filho a escrever suas primeiras peças; e elas estão longe de estarem entre as melhores de Wolfgang. De qualquer maneira, sua habilidade ao cravo e suas primeiras peças compostas — tudo com a ajuda do pai — renderam a ele a fama de criança prodígio, o que lhe garantiu patrocínio para estudar com os melhores professores da época. Foi só quando Wolfgang já tinha estudado e praticado música por 10 mil horas que suas melhores composições foram escritas.

E os jogadores de xadrez, será que eles também dependem da combinação oportunidades + esforço para darem certo? Sim, como em todas as atividades. Além disso, no xadrez, provavelmente uma pessoa só terá tempo suficiente para se concentrar até atingir 10 mil horas (esse tempo equivale a cerca de três horas por dia, ou 20 horas por semana, de treinamento durante 10 anos) se começar ainda criança, antes que outros compromissos surjam. Então, o xadrez não só requer oportunidades, como elas precisam vir cedo, o que é ainda mais raro de acontecer.

Podemos comparar a história de Mozart, o exemplo mais famoso de “talento natural” para música, com a história de Capablanca, o exemplo mais famoso de “talento natural” para xadrez. Capablanca aprendeu as regras do jogo com quatro anos, observando seu pai jogar, e em seguida ganhou dele várias partidas seguidas. Pelo menos isso é o que dizem; de acordo com Euwe e Prins, em Ajedrez inmortal de Capablanca, citado na página 302 do Manual de Xadrez de Idel Becker: “A conhecida lenda de que Capablanca aprendeu a jogar xadrez aos 4 anos, apenas vendo jogar seu pai, enquanto este disputava duas partidas com um convidado, foi relegada ao país da fantasia pelo próprio mestre em 1920”.

Por mais cedo que Capablanca tenha aprendido, seu progresso foi exagerado por lendas, que lhe abriram portas, permitindo a sua ascensão até se tornar campeão mundial de xadrez em 1921. Antes disso, ele praticou à exaustão em Cuba e no clube de xadrez de Columbia College, onde estudou por um tempo, não escapando das 10 mil horas necessárias para a excelência.

O mesmo se repete em todos os casos de sucesso. Apoio e 10 mil horas de esforço são um invariante nas histórias de todos que atingiram o topo de seus respectivos nichos de atuação. Gladwell afirma que qualquer pessoa com inteligência média pode conseguir o mesmo, desde que conte com os ingredientes necessários.

Mas e as pessoas que começaram mais tarde e nunca poderão estudar o jogo por 10 mil horas? Estas ainda podem tirar proveito e atingir um bom nível. O livro de Gladwell é uma ótima leitura também para não nos culparmos por nossas limitações e nos sentirmos mais capazes. Afinal, as condições (incentivo, disponibilidade para se aprimorar) de cada um são únicas e não se pode esperar os mesmos resultados de todos.

2 comments

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *